2018 traz consigo o 4° aniversário do fim da nossa amizade. É metade do tempo que fomos amigas. Uma amizade que para mim significou desde um cérebro teimoso para confrontar a um abraço amigo para mergulhar. A sua amizade significou muita coisa para mim…
Pensando em nós foi que eu me dei conta: a amizade não vale quase nada depois que crescemos. É muito difícil fazer amigos depois dos 20 e tantos anos. Existe sempre uma sombra, um rastro de desconfiança, uma maldade implícita, algo de desencorajador ao redor dos amigos adultos. Para piorar, amizades exigem tempo, talvez mais do que estamos dispostos a admitir; exigem entrega, talvez mais do que estamos dispostos a dar; exigem a capacidade de lidar com maus momentos, talvez mais do que estamos dispostos a aturar.
Acho que o mais difícil nisso tudo é se doar com tanta inocência quanto antes. É quase impossível encontrar alguém que queira simplesmente “perder tempo” nos conhecendo um pouquinho mais. Existe uma exigência muito grande nas relações adultas de amizade e, é quase implícito, mas eu sinto que não podemos errar tanto. Deve ser porque as pessoas estão demasiadamente feridas ou ocupadas (eu ainda não sei direito), mas elas não se esforçam para aceitar as pessoas como elas são. Ou quando se “esforçam” precisam apontar os erros das pessoas pelas costas – ao invés de simplesmente se dirigir a elas.
Eu percebo e me sinto agora contaminada por isso, como se fosse algo que eu venho aprendendo aos poucos e sem perceber: é simplesmente muito difícil virar-se para alguém e dizer coisas como: “Isso me magoa” ou “Não gosto quando você age assim comigo”. Por que não podemos mais ser honestos sem que isso cause um transtorno descomunal? Por que preferimos criticar as pessoas com quem nos relacionamos longe de seus olhos e ouvidos? Quando começamos a achar que amizade é sinônimo de sacrifício? Será que depois dos 20 e tantos anos sempre vamos achar que não recebemos de alguém tanto quanto merecemos? Será que sempre vamos achar que estamos esquecendo de dar alguma coisa?
Existe pouca verdade quando somos adultos e terminamos por nos acomodar muito com o que temos, como se fosse um presente grego divino. Não queremos perder, não queremos ganhar, não queremos ser honestos, mas também não queremos ser falsos. É uma espécie de meio-termo de tudo e coragem de nada. É por isso que eu comecei a pensar na nossa amizade que, embora findada, continua a me fazer pensar sobre quem eu fui, quem eu sou e quem eu gostaria de ser. Quem?
Sabe, ninguém desfruta do calor do verão sem sentir o frio do inverno. Se lançar ao vento é bom, mas sempre corremos o risco de cair na tempestade. Podemos continuar sendo corajosos agora que sabemos tudo isso? O que eu quero dizer é que não dá para descartar as coisas porque elas não cheiram mais como livros novos e pão de padaria. É inocente? Muito. Mas era isso mesmo que eu queria mergulhar no fundo da minha alma para resgatar.
O fim da nossa amizade é hoje algo que não me orgulho e nem me envergonho. Simplesmente aconteceu. Acho que porque as pessoas mudam na sua própria essência, mudam em relação ao mundo, mudam em relação a nós. E é claro, isso nos choca, causa desconfortos, conflitos e rompimentos. Mas acho que, seja como for, sempre haverá espaço para novas pessoas e relações nas nossas vidas.
Acho – adoro esse verbo – que algumas coisas são irrecuperáveis em sua totalidade, mas eu tenho certo respeito, e até saudade do que tivemos. Foi bom, foi ruim, foi verdadeiro.
Talvez jamais poderemos ser tão inocentes, verdadeiros e puros como antes. Talvez sempre tentaremos nos levantar como alguém que esteve quatro anos imóvel em uma cadeira de rodas: passos desajeitados, lentos, imprecisos e desconfiados. Saindo de nosso casebre frio, cauteloso e negro em direção ao tímido raio de sol que a brecha da porta deixa escapar. Duas perguntas martelando em nossa mente enquanto os olhos se incomodam com a claridade que aos poucos começa a entrar:
– Será que vamos cair novamente? Por que se preocupar?