Professores: Tia Célia

Tia Célia foi a minha professora da primeira série. Tenho um imenso carinho por ela. Guardo doces lembranças do seu modo de ser.

professora da primeira série

Eu admirava muito a tia Célia. Lembro-me o quanto ela era paciente, o quanto era amável e o quanto gostava de mim. Claro que eu queria ser como ela quando crescesse. Óbvio. Então, para ficar perto dela: eu nunca faltava às aulas. Para me aproximar dela: tentava imitar sua letra, mas sempre ficava tudo torto, um garrancho total. Para chamar sua atenção: eu brigava com os coleguinhas, levava a maior bronca, mas até gostava. Era um sermão tão suave, tão construtivo, tão adorável que valia a pena.

Tia Célia era a filha da diretora de uma pequena escola chamada “Instituto Educacional Menino Jesus de Praga” em São Luís, mais especificamente no bairro Anjo da Guarda. Ela era negra, tinha cabelo castanho, curto e crespo. Seus olhos e bocas eram grandes e expressivos. Ela era alta e magra e devia ter entre 25 e 30 anos. Perfeita em minha mente.

Como está tia Célia hoje? Conseguiu ela realizar seu grande sonhos de ser mamãe? Só espero que ela esteja feliz.

Homenagem a tia Célia.

Saindo de casa

Lembro-me do dia que decidi estudar no Rio. Pensei, na ocasião, que destino, talvez, fosse um imã que suga nossa vida para onde quer que seu magnetismo esteja.

saindo de casa

Por algum motivo eu sempre senti que fazia parte do meu destino estudar no Rio de Janeiro. Imagine você que eu não sou lá aquela menina ambiciosa, mas sempre cultivei em meu coração grandes sonhos sem abrir mão deles jamais. Talvez por ser uma pessoa que não conta com a certeza de outras vidas, esforço-me ao máximo para ser feliz nessa. Sou dessas que desafiam as circunstâncias e que têm um coração extremamente inconformado. Sendo que essa segunda característica já me trouxe muitos problemas e cada saia justa… Só Deus sabe!

Muitas pessoas ao meu redor são incapazes de entender a minha loucura. Numa conversa com uma amiga íntima, ouvi seus questionamentos sobre o fato de eu ir para o Rio sem nenhuma perspectiva. Afinal, eu tinha capacidade de continuar em São Luís, estudar na Federal de lá e alcançar o mesmos resultados que provavelmente me trariam uma vida acadêmica no Rio. Para ela, era difícil entender tanta ousadia. Compreensível, eu acho. Só entende a cabeça do louco que pensa como ele. 

Essa amiga, na ocasião, era aquela pessoa sem nenhum objetivo e completamente perdida na vida. Então, aproveitei a intimidade e falei-lhe abertamente que eu achava muito esquisito ver que as pessoas vivem como se não houvesse amanhã. Disse também sobre a minha percepção de que a vida é uma só e eu não queria desperdiçá-la em vão. Pelo contrário, tinha grandes sonhos e faria o possível para realizá-los.

Ela ouviu tudo calada. Eu senti que aquele momento era especial para nós duas. Para mim foi importante pronunciar aquelas palavras e entender que realmente eu estava disposta a arriscar tudo por um futuro brilhante. Para ela foi importante ouvir aquelas palavras e perceber que o tempo estava passando e ela não havia conquistado nada em quase 30 anos.

Foi um momento mágico, jamais esquecerei o que representou para mim e provavelmente para ela. O fato é que eu fui atrás de meus objetivos e sigo firme e forte, matando um leão por dia. Não é fácil. E ela entrou na faculdade, parece ter amadurecido brutalmente nesse processo, além de ter percebido a urgência de fugir de uma vida frustrada. Fico feliz por ela, apesar do fim de nossa amizade.

Enfim, você pode pensar que não há nada demais em sair de um estado para o outro, sem nenhuma perspectiva, mas só eu sei o quanto foi difícil. Ainda mais com seus amigos e toda a sua família dizendo que é loucura e que você não vai conseguir porque é difícil passar na faculdade“, “você não tem dinheiro” ou “você não tem um lugar para ficar“.

Não foi nada fácil me mudar para o Rio de Janeiro sozinha. Não foi fácil ficar numa casa onde eu não conhecia ninguém e dividir um pequeno quarto com mais três pessoas. Não foi fácil perceber de repente o quanto eu estava vulnerável. Não foi fácil sentir saudade de casa e do conforto que antes eu tinha. Nada foi fácil, mas certamente foi necessário. E eu amadureci muito!

Várias vezes pensei em desistir. Incontáveis vezes mesmo! Tive algumas dificuldades, crises, achei que fosse tudo em vão, sofri, chorei… Porém superar os obstáculos, descobrir que sou capaz, que tenho força interior e que consigo ir mais longe é o motor que me faz funcionar todos os dias. E adianto: não vou parar por aqui.

Por tudo isso, desejo muita ousadia a você! 

E de repente, um tremor no peito

tremor no peito é amor

– Como é gostar de alguém?

Perguntou meu irmão mais novo muito curioso, visto que estava na idade em que o amor acontece pela primeira vez.

– É como um terremoto.

– Mas você nunca esteve num terremoto antes.

– E depois de amar, precisa?

– Conte-me.

Eu o amava sem ele saber e questionava se com ele acontecia o mesmo. Ao lado dele tudo em mim sacudia e já não era possível conter-me. Rezava para o tempo passar rápido e depois para que parasse quando estava ao seu lado. Um dia, disse-lhe de supetão no meio de uma conversa boba:

– Preciso confessar-te algo!

Mas não sabendo como dizer, abracei-o. E o tremor em meu peito disse-lhe tudo.

Giulia Salgado

Culpada de Amar

amor de infancia

Aos dez anos, pela primeira vez eu tinha um diário nas mãos e no peito um coração que batia por amor.

Ele se chamava Antônio Carlos e estudávamos juntos. O nome é de galã, mas ele não era tão bonito, ainda que na minha cabeça ele parecesse um anjo. Sua presença me agradava em todos os sentidos e eu adorava tudo nele: a timidez que transparecia em suas bochechas coradas, o jeito manso de falar, o nervosismo, as mãos trêmulas, o cheiro suave…

Com vergonha de contar a alguém o que eu estava sentindo, escrevi tudo no diário e tranquei meus segredos com um cadeado. Andava com ele para cima e para baixo e sempre que acontecia algo importante eu escrevia imediatamente. O problema é que isso despertou muita curiosidade entre os meus colegas de turma. E foi assim que, num dia qualquer, meu diário sumiu. Foi um desespero, pois eu escrevia sobre tudo acreditando que meus segredos jamais seriam revelados.

No fim, meu diário havia mesmo sido roubado e depois arrombado por uma garota que não gostava de mim. Um grupo me perseguia enquanto ela lia tudo em voz alta. Logo uma rodinha se formou ao meu redor e trouxeram o Antônio Carlos para ver. Ficamos os dois lá, encurralados. Ninguém nos deixava sair da roda e já muito constrangidos, eu e ele nem nos olhávamos mais. Ambos nos sentimos muito culpados, como se amar ou ser amado fosse o maior entre todos os pecados. Para aquelas crianças, pelo menos, era assim e para nós dois também passou a ser.

Tudo acabou com muitas lágrimas, o fim da nossa amizade e um constrangimento total de voltar à escola. Logo meus pais descobriram que eu estava faltando aula todo dia e decidiram me transferir para outro colégio. Por ironia do destino, o Antônio Carlos me procurou quatro anos mais tarde e confessou que também gostava de mim naquela época. Algum tempo depois, finalmente nos beijamos e até namoramos escondido. E assim amar deixou de ser um pecado.

Giulia Salgado

Linha do Tempo do Amor

amor

O amor era tudo. Durante a minha primeira infância, o amor era tudo que vinha dos meus pais. O colo aconchegante da minha mãe, aquele abraço quentinho quando eu corria para a cama dela com medo do bicho-papão, enquanto sua doce voz acalmava o meu coração. Meu pai lendo o livro ‘O Pequeno Príncipe’ para mim e cantando a música ‘Pingos de Amor’ para minha mãe era bonito, era amor.

O amor era uma invenção. Na minha segunda infância, eu não tinha qualquer intimidade com o amor. Achava estranhíssimo meter a língua na boca de outra pessoa, mesmo quando via a cena em novelas, com todo aquele clima de romance. Nessa mesma época meus pais se divorciaram, foi difícil. Passei a ver o amor como uma invenção. Aulas sobre sexualidade me fizeram crer que o amor era na verdade um instinto biológico que garantiria a reprodução humana.

Então o amor chegou de fininho. Na minha pré-adolescência, o amor era um segredo, uma coisa louca que nascia não sei onde e muito menos por que, como um câncer que não pode ser curado, mas apenas tratado. E teria o momento do diagnóstico: será que era benigno ou maligno? O melhor era não saber. Eu tinha certeza que ele existia, mas não queria confrontá-lo. E por que eu faria isso? Melhor era continuar sonhando.

E o amor virou uma realidade. Aos 16 anos, quando pensei ter conhecido o amor da minha vida, descobri o quão bom era estar apaixonada. É indescritível, mas posso tentar: você gasta horas ao lado de uma pessoa sem perceber o tempo passar. É um prazer estar ali e ter aquela conversa boba, com a pessoa que você conheceu de forma inusitada por causa de uma conspiração do destino. Claro que é para sempre. Óbvio.

Mas o amor pode acabar. Volte no tempo só para me dizer isso quando eu tinha 18 anos. Parecia impossível o amor acabar. Nunca eu conseguiria amar alguém novamente. É indescritível, mas eu posso, novamente, tentar: a dor é tão grande e profunda que mal se consegue respirar.

E incrivelmente o amor pode recomeçar. Acredito que todos nós não temos convicção nenhuma, muito menos no amor. É esquisito, mas parece que quanto mais o tempo passa, mais certeza temos de que não sabemos quase nada. Sempre que alguém me diz algo, por mais estranho que soe, eu não consigo simplesmente me recusar a acreditar. E no amor isso se aplica assim: tenho um namorado, sou inteiramente apaixonada por ele, mas não tenho certeza até onde vamos. E se formos só até ali, e de repente acabar, vou sofrer sim; mas sei que não será o fim e que tudo recomeçará: eu amarei novamente.

Giulia Salgado

Eu me reviro do avesso

sensual

Eu me reviro do avesso
Quando teu abraço cobre meu corpo
E seu sussurro me deixa louco
Te toco, me doo

Uma voz fala ao ouvido
E o calor emana pelos sentidos

Eu me reviro do avesso
Quando molho os teus lábios vermelhos
E sua mão desliza pelo meu corpo
Te aperto, me envolvo

Uma mão sobe pelos cabelos
E o lençol é machado de desejo

Eu me reviro do avesso
Quando viajo pelo seu íntimo
E sua respiração domina o meu corpo
Contenho-me e explodo!

O coração pára só pra depois pulsar descontroladamente
E sorrisos dizem o que a gente sente

Giulia Salgado

Vamos falar sobre os meios de comunicação?

Imprensa-Manipulacao

Ao mesmo tempo que devem prezar por sua liberdade de expressão, as emissoras e jornais também devem resguardar o dever que dizem ser sua principal missão: veicular o que é relevante e de interesse público.

Ter o poder de informar exige muita maturidade. Ao passo que dar cobertura descomunal a algumas notícias e quase nenhuma a outras (quando não ignorá-las completamente) não reflete o verdadeiro compromisso com a sociedade, mas sim com uma convicção ideológica.

Já que a imparcialidade é mesmo utópica, que a parcialidade seja feita com o mínimo de ética.

Giulia Salgado

Excluindo os amigos

midias_sociais

Sempre fui uma mulher independente e isso meio que confunde-se com egoísmo. Ou é simplesmente egoísmo mesmo e eu só não queira admitir porque é feio. De qualquer forma, optei pela palavra “independente”. Conformemo-nos!

Enfim, a discussão que trago hoje gira em torno da tecnologia, mais especificamente sobre os relacionamentos digitais. Recentemente, percebi que não consigo acompanhar o ritmo das pessoas com quem me relaciono – e talvez eu nem faça muita questão também (egoísta, não?). Mas juro que não faço por mal ou porque não tenho afeto pelas pessoas que circundam minha vida. Pelo contrário! Acho que minha rejeição tem origem unicamente na conclusão de que os relacionamentos digitais perderam o controle e tornaram-se exaustivos. Monótonos demais!

Imaginem o surto que eu tive nessa manhã (quando finalmente acordei para vida) e percebi que a maioria dos meu amigos têm Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Skype, Snapchat e outros, tudo ao mesmo tempo. Travei antes de excluir minhas contas nessas redes sociais, uma vez que estavam todos lá, gerenciando essas diversas “vidas”.

Como conseguem? Por que todo esse esforço? O que buscam nos meios digitais? 

É um pouco dolorido se desfazer de uma mídia social porque sei que alguns amigos se perderão nesse processo, pois a vida deles é aquilo ali, é vivida daquela forma. É dolorido também porque sei que aos poucos irei ser removida da memória dos amigos menos presentes.

As vezes fico me perguntando (e talvez alguns de vocês se ofendam): por que é preciso ter tantos aplicativos? Que desespero de ser engajar em relacionamentos digitais é esse? Não podem lançar um novo aplicativo que de repente todos migram para lá e você se vê nessa sinuca de boca, pois se você não for também acaba perdendo os amigos, a participação na vida deles e vice-versa. É uma histeria geral.

Será por causa do desejo de ser famoso? Carência emocional? Querem sentir-se importante? Querem amor? Ou apenas buscam atenção? 

Não compreendo. Só sei que essa vida infestada por meios digitais não me agrada. Decidi que menos massante seria manter apenas o Facebook e Blog, optando por excluir todo o resto. Desculpem amigos, mas se a vida de vocês em relação a mim está restrito a esse “resto”, vocês serão automaticamente excluídos.

Giulia Salgado

03.03.2016 – 24 anos

escrevendo poesia.jpg

Mais um dia raiou brilhante
É certo: uma hora há de pôr-se o sol
Por enquanto é cedo e distante
Vou vivendo feito um girassol.

Vejo uma menina
Tento falar-lhe todo o dia e não consigo
Tantas coisas eu diria a ela
Mas o passado nos separa, é nosso inimigo.

Faz tempo, perdi a pretensão de tudo compreender
Tento dizer a ela: é tolice achar que sabes tudo
Pois o mundo é grande, impossível de conhecer.

És jovem – eu sei! – mas viver é todo dia envelhecer
Tu não és mais aquela menina
Que eu era antes de te conhecer.